29 de abr. de 2010

Vazio e felicidade.

Um breve conto...

Hoje Pablo não fez sua caminhada matinal antes do trabalho, apenas levantou as onze da manha, e como se fosse rotina tomou um café preto e amargo, acendeu um cigarro e sentou se no sofá, ouvindo o barulho do mundo que há horas já havia acordado. Hoje ele não foi trabalhar, não deu se quer um telefonema com uma desculpa esfarrapada. Fred, seu cachorro, pulou em seu colo pedindo afago, e ele ignorou, pensava apenas, daqueles pensamentos sem razão e continuidade vazios na essência.
Não, ele não está triste sequer deprimido, está feliz, porque pela primeira vez em muito tempo tudo esta dando certo, e ousou se permitir uma folga do mundo, da vida, apenas pra curtir um café preto e amargo e um cigarro às onze da manhã.
Depois de muita insistência de Fred, ele se levantou do sofá pegou a coleira e saiu de casa; no corredor do prédio uma zeladora fazia o seu trabalho, ela balançou a cabeça em um aceno tímido e foi respondido com o mesmo gesto; era a primeira vez que havia visto alguém nos corredores, até porque faz apenas uma semana que ele se mudou. Desceu para a área comum e esperou pelo cão.
Fred é um pug, desses cães de focinho achatado que respira com dificuldade, acostumado a uma casa cheia em que todos lhe davam atenção, e por isso ele começa a se deprimir, mas hoje ele esta feliz também, apenas pela presença do seu dono.
Pablo e Fred voltaram ao 10º andar; da varanda a visão da cidade é magnífica, mas Pablo tem medo que o cão despenque, então fechou a porta; debruçado no parapeito lembrou do principal motivo da sua felicidade, a vida, e também lembrou do porque da vida ser tão importante, seus pais, irmãos, dos seus tios e avós, e lembrou também do seu namorado. Nesse momento Pablo quer ligar pra ele, mas teme o incomodar no trabalho então se aquieta.
Já são três da tarde e Pablo percebe que ainda não almoçou, mas não esta com fome então continua a pensar. Sentado no varanda ele já está no 12º cigarro, então se lembra que havia parado de fumar, e se pergunta o porque de ter uma carteira de cigarros em casa, instintivamente se da conta de que era do seu namorado... ...como era a segunda vez que pensava nele sentiu remorso e ligou, não disse onde estava nem o que havia feito, temendo ser repreendido, sorrindo disse: "_ Amor esqueceu os seus cigarros la em casa!" , conversaram ´por alguns minutos, sorriram de algo engraçado e desligaram combinando de se encontrar a noite, saiu de casa outra vez, mas sozinho, tomou o carro, comprou outra carteira de cigarros visando repor a que havia fumado e sem perceber a abriu e fumou mais um, entrou em um super mercado e fez compras; com a rotina de Pablo ele não havia colocado nada em sua geladeira desde sua mudança!
Voltou pra casa e preparou o que seria o jantar, comeu um pouco pra saciar o vazio do estomago e esperou, pensando no seu dia, em todos, em nada e esperou ouvindo a cidade se silenciar ao som de Billie Holiday com sua voz rouca, esperou até agora, onze da noite quando ouviu a porta se abrir e seu nome ser chamado em tom de pergunta...

14 de abr. de 2010

ALTO CONHECIMENTO.

Já ouvi dizer que feliz é aquele que conhece seus limites, suas dores, aquele que pondera por saber que adiante exsite a possibilidade de quebrar a cara, de ser mais uma vez traído, apunhalado ou mesmo esquecido...

Ou será que feliz é a quele que arrisca, mesmo quando tantas e tantas vezes não deu certo, tenta, se joga, sofre, mas sorri, geme de dor, mas também de prazer, sente angustia de não saber o que se passa ao certo e igualmente sente outro tipo de angustia, saudades!

Apesar de ser alto crítico e por vezes cético, tenho agido como quem joga, arrisca, usa as armas, mesmo existindo um pézinho nessa inútil tentativa de permanecer isento e estático.