Algum tempo atrás observei essa frase em um trecho de um filme, que eu particularmente adoro, e que até poucos dias era o meu filme favorito. Acho que já falei sobre ele, ou foi meu amigo Léo Tavares, enfim não tem problema; mais importante é a referência: Hedwig and the Angry Inch. Escrito, dirigido e estrelado por John Cameron Mitchell (obs: um gato) enfim. Esse filme veio à memória por conta da sua adaptação recente para o teatro através da direção de Evandro Mesquita, o garoto Blitz, que hoje nem é mais garoto, (risos), que até agora segundo minha opinião pecou por apenas um ponto: a escolha de Paulo Vilhena como um dos atores principais do musical, já que na adaptação o personagem Hedwig é interpretado por dois atores ao mesmo tempo, Pierre Baitelli e Paulo Vilhena. Já a atuação de Pierre Baitelli, dizem as bocas malditas, que esta espetacular cênica e musicalmente falando.
Mais importante ainda que John Cameron Mitchell, ser ou não bonito, ou quem faz o que no espetáculo que eu ainda não assisti por pura falta de oportunidade geográfica; é a frase título deste post. “deny me and be damned” que traduzido de forma tosca pelo Google tradutor, quer dizer: Negue-me e seja amaldiçoado. Pois este é o real objeto e intenção deste texto.
Essa frase colocada ao fim de uma “apresentação musical do fictício grupo” no filme, faz referência à visão de um deus cruel que pune aos seus fieis, filhos, através da condenação eterna, caso esse faça algo que difere das suas regras e fundamentos. Mais precisamente falando sobre sexualidade. Observando assim nem nos damos conta da proximidade em que nos encontramos desta realidade. Fato é que o cristianismo vivido no Brasil e no mundo nada mais é que a personificação deste princípio, não somente pelos seus fundamentos teológicos derivados da religião mais preconceituosa e determinista que existe, o judaísmo; mais pelos próprios executores e autoridades que são responsáveis pela propagação e manutenção desta religião.
Acredito que todos saibam das minhas origens, e por isso me sinto embasado tanto em conhecimento e discernimento para fazer essa analise, sim eu era um desses. Nascido criado e fundamentado nos princípios cristãos eu corroborava desses pensamentos e ao mesmo tempo era vítima deles.
Existia em mim um sentimento opressor que me empurrava de encontro a milhões de sentimentos naturais e inerentes a minha vontade.
No filme, Hansen, nome de batismo do transexual Hedwig que vive a divisão da Alemanha em 1961; também vivenciava essa opressão, ouvia de diversas formas da figura de Jesus Cristo, dos seus feitos e de suas leis, desta maneira também se oprimia, até que da pessoa que ele menos esperava ouviu a melhor das definições que eu também já ouvi acerca desta figura histórica. Em uma cena com sua mãe, Hansen diz: Jesus é bom! Sua mãe prontamente lhe responde: Não diga tolices... Ao que ele responde: Mas ele morreu para nos salvar. E finalizando ela retruca: Hitler também! Observando as características regionais, políticas e sociais no qual o filme esta inserido.
Mais importante do que o exemplo dado pela mãe do Hansen, é observar por meio desse as coisas que acontecem e as figuras que se levantam em nome de uma causa que a seu ver é válida e justificável, quantos genocídios ao redor do mundo aconteceram em nome dessas causas? Quantas determinações e exclusões já aconteceram e continuam a acontecer mesmo que de forma camuflada por uma ou outra denominação religiosa. São atrocidades que se fazem em nome de deus, um deus que eu desconheço; um deus que se fundamenta no terror psicológico, e que dissemina esse terror através dos fundamentos humanos, de quem quer justificar seus medos e tabus.
“deny me and be damned...”
"Temos a arte para não morrer da verdade."
Nietzsche